sábado, 10 de julho de 2010

A medida da dor

Pois não sei como começar ao que venho, por ser tão profundo e daí custar arrancar.
Todos os que me são chegados sabem a paixão assolapada que tenho por cães. Costumo dizer que consigo ler os seus olhos.
Contudo, devo dizer que este sentimento tão forte se evidenciou nos últimos anos. Recordo-me que na infância e adolescência vivi rodeada de gatos e, quem me segue, sabe até que a minha mãe era a avó do miau...
Quero dizer que penso que este amor foi-se instalando devagarinho, depois de ter comigo os meus 2 últimos peludos: o Black e a Luna. Há quem diga que o mais velho ( o Black) nem ia muito comigo!
Mas o amor e a sua reciprocidade tem destas coisas: vai-se infiltrando sem se dar conta momentânea e cresce sempre, enquanto deixarmos. E eu deixei, rendi-me à ternura desigual e à fidelidade que não pede exclusivo.
Não seria justo nem se quedaria completo o meu perfil, se não fizesse este aparte ao tema que me proponho no título do meu Blog, mas quase desde o primeiro episódio que vos pus ao corrente da minha necessidade de expandir.
Já não é a primeira vez que me ponho à frente deste teclado com a ideia de falar neste tema, sem sucesso, por falta de garra que o mesmo me exige.
Mas ontem o encontro casual com a MAVAP no C.C. Dolce Vita despoletou esta urgência.
As fotos expostas mostram de tudo: salientam a crueldade humana, mas também mostram o amor infinito na pessoa de um sem abrigo e do abraço sentido ao seu estimado amigo. O mais curioso é que a foto que mais me impressionou não tem ferida física como tantas outras, tem apenas (??) uma parede onde se encosta um cão, por certo abandonado, sem se mostrar, mas que transmite, não perguntem como, uma tristeza, desilusão, abandono que dói e dói .
Não há medida possível para essa dor, como também não haverá para o amor que os meus protagonistas querem dar. E é tão fácil: basta querer para o ter.
Sou sócia da Vivanimal (animal-vivanimal.blogspot.com) e deparo quase todos os dias com as dificuldades, financeiras, logísticas e legais para levarem a sua tarefa avante. E aqui faz-se jus à mentalidade portuguesa que só recorre a estas associações quando precisa dos seus serviços . Temos obrigação de pensar no que de bom traria a opção contrária: o ajudar antes. No caso da Vivanimal pede-se a quem queira ser sócio o pagamento de 2 euros mensais, que quando sobra das tantas despesas diárias de manutenção para os que podem acolher, serve para esterilizar, porque é o passo mais importante para controlar o aumento da epidemia do abandono.
Temos de valorizar quem ajuda, no anonimato e, quem dá a cara, porque é obrigada. Era o caso da Teresa, presidente dessa associação, que morreu por amor. Não resistiu à inércia alheia e fugiu-nos.
Por sua vez, a MAVAP (visitem por favor www.mavap.com.pt) traz uma lufada de ar fresco ao panorama, porque quer salientar sobretudo o bom que se faz. Diz a Madalena que é obrigatório mostrar o mau, para se ver o outro lado da barricada: o sítio onde estão os que sabem receber o que os outros deitam fora e, que por ignorância, nem sabem o que perdem.
De fonte segura, vos digo, que sei que há sempre tempo para mudar e ir crescendo no conhecimento da nossa nova atitude. Eu não nasci, nem cresci assim e agora este é o sonho que falta realizar: ter um canto onde recolher todos os enjeitados e ser a B.B. de Portugal.
A esta minha alta e, talvez impossível pretensão, oponho o consolo de conhecer muitos mais a pensar da mesma forma e saber que o muito querer vencerá.
Assim, não poderei dizer que não sabia e, que não vos disse.

Obrigada Teresa.
Obrigada Madalena.
Bem hajam;

GU

sábado, 3 de julho de 2010

Ode à minha Mãe

Preciso de falar ...contigo.
Dizer-te o que falta contar.
Trazer de volta o teu saber aconchegar.
Dar-te conta do que se passou e continua a passar.
Sinto vontade da tua aflição em dar o que tinhas e o que imaginava que davas, não tendo.
Cresce dentro de mim a imagem tantas vezes ignorada do teu grande gesto, tão mais ténue quando físico.
Agora que não te ouço, tenho em mim a memória das doces zangas.
Hoje que não te vejo, vislumbro o teu sorriso e quase que o teu choro.
Tenho um bocadinho de ti sempre presente.
Encontro, em todos os momentos, desculpa para te amar.
E quero que saibas que o teu cheiro matinal continua a nascer e a morrer devagarinho todos os dias...

E sei que de onde estás, sentada no trono dos Justos, reconheces que faço o possível por compreender o que devo seguir e aproveitar as leves pisadas que deixaste tão vincadas na areia do meu ser.
Nunca te esqueças de me relembrares a tua história, onde encontrarei sempre refúgio e paz.

Estas são as palavras que sempre te direi:

Dorme bem;

Gusta